quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Resenha | Dois Irmãos - Milton Hatoum




Autor: Milton Hatoum
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 266
Avaliação:    


A história que se desenvolve em Manaus, narrada por Nael, conta a relação conflituosa dos gêmeos Yaqub e Omar. O amor que uniu Zana a Halim na adolescência, acaba separando cada filho ao seu nascimento. Enquanto o pai se orgulha de Yaqub vendo-o como um filho de futuro promissor, Zana parece ver Omar como filho único, com excesso de mimo, fazendo todas as suas vontades, sendo fria e indiferente com Yaqub. Até mesmo Rânia, filha mais nova o casal sofre com a postura da mãe que só tem olhos para o caçula.

Admito que o fato dessa trama virar minissérie na TV me deixou curiosa e longo comecei a leitura. Diria que foi uma experiencia triste, cheia de desequilíbrios familiares. Sabia desde o início que um livro como este, não teria um final feliz para os envolvidos. Realmente desejei encontrar um culpado para os atos de Omar, mas não consegui, pois o que leva o personagem ser totalmente sem limites é um conjunto de fatores e pessoas. Em sua fase adulta, você pensa: "Ele poderia mudar, ser alguém diferente" Teve chances para isso, mas ele as despreza pois parece que Zana é dona de seus passos e desejos. Ela não criou e educou o caçula para o mundo, criou para viver embaixo de "suas asas" e isso tem um preço alto para Omar e até mesmo para a própria Zana. 

Logo Omar se torna uma pessoa que não suporta ser desprezado, quer ser o centro das atenções sempre e quando não é o escolhido usa a ira para resolver a questão, tornando-se alguém violento. Yaqub, por ser mais reservando tem sua vida moldada pela sombra do irmão, alguém que não se manifesta, que não compartilha suas experiencias em família. Yaqub cresce e amadurece para o mundo. Sem o carinho e proteção materna, Yaqub por vezes se sente reprimido, traído pelo próprio irmão, que lhe rouba algo tão essencial como o amor de mãe. Halim por outro lado era o único personagem estável que buscava alternativas para acabar com o caos dentro de sua casa. Mesmo assim, ele também sofre com as consequências, pois o caçula parece ocupar até mesmo seu espaço como marido, o que o irrita, mas como pai luta para ficar ao lado da mulher independente do que ocorra entre os gêmeos.

Essa relação familiar tempestuosa, têm como testemunhas Domingas (índia e criada de Zana) e seu filho Nael que é na verdade mais uma vitima das atitudes de Omar. Halim como único ser equilibrado, toma a frente da situação, tentando sempre ver os dois lados da balança é por anos a base para Nael, que cresce vivenciando todos os conflitos e entendendo que mesmo não sendo reconhecido, faz parte tanto quanto todos os outros dessa família.

Algo que me surpreendeu foi a vingança de Yaqub, sempre calado arquitetou tudo contra Omar usando todos os contras de seu irmão ao seu favor. Isso mostra que apesar de aparentemente seguir adiante, a cicatriz que Omar lhe deu nunca havia de fato sido esquecida. Que a dor que sentia era maior que a dor física, estava alojada permanentemente em seu interior. 

O contexto da história é relevante, e serve para reflexão sobre educação, respeito e orgulho nos tempos atuais. Apesar de ter gostando da história, acredito que criei expectativas que não foram atendidas no final da leitura. Terminou com um padrão que vinha sendo repetindo ao longo do livro. Ninguém foi capaz de unir os gêmeos, nem os pais, nem o amor, nem a vida, nem a morte, nem mesmo o tempo que ainda resta para ambos continuar a viver.


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